sábado, 1 de setembro de 2012

MULHERES EM CARGOS DE LIDERANÇA


Segundo Chiavenato (2004) liderança “é o processo de dirigir o comportamento das pessoas rumo ao alcance de alguns objetivos”. Na mesma obra, encontramos a descrição de algumas competências relacionadas a exercício da liderança, e são elas:
Impulso ou motivação para perseguir objetivos; motivação para liderar; integridade, que também inclui confiança e vontade de transformar palavras em ações; autoconfiança para fazer os liderados se sentirem confiantes; inteligência, geralmente focada na habilidade de processar informação, analisar alternativas e descobrir oportunidades; conhecimento do negócio, para que as ideias geradas ajudem a organização a sobreviver e ser bem-sucedida; inteligência emocional, com forte qualidade na sensibilidade às situações e na habilidade de adaptar-se às circunstâncias quando necessário.”
A busca por profissionais dinâmicos, proativos, com grande capacidade de adaptação, versatilidade, empatia, dentre outras características, tem sido o imenso desafio das organizações.
No início dos séculos XVI e XVII nas uniões legítimas, o papel dos sexos estava bem definido, por costumes e tradições apoiados nas leis. O poder de decisão formal pertencia ao marido, como protetor e provedor da mulher e dos filhos, cabendo à esposa o governo da casa e a assistência moral à família. As mulheres eram assinaladas como “as rainhas do lar”. As organizações sociais eram compostas por famílias onde o homem era o provedor e à mulher cabia o papel de cuidar da casa, do marido e dos filhos. Segundo Samara (2002). Uma mulher no mercado de trabalho era uma exceção e em se tratando do preenchimento de qualquer ficha cadastral feminina encontrava-se no campo profissão a descrição “do lar”.
Segundo Tonani (2012), o grande início da inserção da mulher no mercado de trabalho aconteceu de fato com as I e II Guerras Mundiais. Com os homens nas frentes de batalha, as indústrias se utilizaram da mão de obra disponível – mulheres e crianças. Com o fim das guerras, muitos homens não voltaram, ou mesmo os que voltaram estavam incapacitados para assumir suas antigas funções no mercado. E coube então à mulher assumir o papel antes ocupado por eles. E esta participação da mulher no mercado trabalho não parou mais de crescer e se solidificar.
Segundo Frankel (2007) “todas as mulheres são naturalmente líderes, e que certas características exclusivas da mulher são o que faz a grande diferença no novo conceito de liderança que as empresas buscam atualmente”.
De acordo com citação de Frankel (2007) “liderança é a capacidade de influenciar pessoas para segui-las”. Se observa que algumas empresas identificam que as mulheres possuem características peculiares que as tornam alinhadas com as habilidades de liderança desejadas.
Para Kets de Vries (1997):
Os talentos femininos estão tão perceptíveis, que na grande maioria das organizações que surgem no momento, parece que as empresas estão fazendo sob medida para as habilidades das mulheres. E com isso entram em desafio com sua própria personalidade de mostrar e encontrar seu ponto de equilibro entre a firmeza e feminilidade, competitividade e solicitude, fatos e sentimentos.”
Segundo Fisher (2001):
Os talentos naturais das mulheres, entre os quais inclui a apetência pelo trabalho em rede e pela negociação, a sensibilidade emocional e a empatia, a capacidade de conciliar diversas tarefas ou a facilidade de comunicação verbal, estão particularmente adequados à sociedade global do século XXI. O próprio crescimento e mudanças na sociedade atual - o aumento de serviços globais e de uma política comunicacional mais forte - conferem mais uma vantagem à mulher de hoje - os seus talentos naturais e capacidades são especialmente requisitados na era em que vivemos.
Fisher também se dedica ao estudo da evolução sexual, afetiva e familiar da mulher, explorando, desde os antecedentes pré-históricos, as diferentes formas do homem e da mulher abordarem questões como o amor e o compromisso. Castells (1999) também afirma:
As mulheres estão sendo cada vez mais promovidas a cargos multifuncionais que requerem iniciativa e bom nível de instrução, uma vez que as novas tecnologias exigem uma força de trabalho dotada de autonomia, capaz de adaptar-se e reprogramar suas próprias tarefas.
Outro aspecto que Castells (1999) afirma ser muito importante para estimular a contratação feminina seria a “sua flexibilidade como força de trabalho”.
Renesch (2003) deu ênfase a certas características que seriam a composição do estereótipo de liderança feminina:
Harmonia – se os homens são donos do “hemisfério esquerdo”, às mulheres cabe o “hemisfério direito”. Isso implica uma capacidade de ver o todo, aplicar a criatividade, raciocinar pela intuição, etc.
Delicadeza – mulheres foram educadas para serem gentis e delicadas.
Cooperação – as mulheres foram criadas para “ajudar” na casa. Nas brincadeiras de infância (pular corda, brincar de casinha ou de boneca), cada uma tinha a sua vez. A menina boazinha era a que “ajudava a mamãe”.
Pôr o grupo em primeiro lugar – as meninas sempre eram encorajadas a fazer-se queridas, por tantos quanto possível. O objetivo era ser a mais popular... se pensava em si mesmo era tida como “egoísta”. Se demonstrava prazer em “ganhar” recebia o rótulo de “exibida”.
Maternalismo – fazer o papel de mamãe para as bonecas dizia o quanto era importante ser maternal. Tomar conta de crianças pequenas era, com frequência, a primeira experiência profissional.
Renesch (2003) cita: os homens são mais autoritários e transacionais e as mulheres são mais transformacionais. Os homens [...] usam mais o poder da posição; as mulheres apoiam-se em suas habilidades interpessoais”.
Atualmente percebe-se uma quebra de paradigma ao se contatar que as empresas estão em buscas de estratégias que deem respostas aos anseios de um mercado cada vez mais competitivo ao buscar nas mulheres seu novo perfil de liderança. É óbvio que não se deve imputar total responsabilidade sobre o sucesso ou insucesso das ações adotadas pelas empresas, exclusivamente, ao parâmetro de comparação de gênero. Homens e mulheres possuem suas características peculiares e diretamente relacionadas ao seu gênero.
Para Tonani (2012) não se pode esquecer a necessidade de buscar-se um equilíbrio. Se por um lado as mulheres apresentam certas habilidades habitualmente não relacionadas aos homens, não há o que impeça que estas sejam desenvolvidas neles, já que é possível perceber, ao longo dos anos, que a mulher, para tentar provar sua competência, opta por incorporar características particularmente relacionadas ao estilo de liderança masculina.
O mercado e o mundo dos negócios na atualidade estão em busca de soluções alternativas para se tornarem diferenciais e competitivas. E esta busca vem ao encontro de um ambiente organizacional muito mais receptivo ao exercício da liderança por parte das mulheres. As empresas almejam por uma gestão mais humana, mais agregadora e que busca incentivar a cooperação, a integração e o engajamento das equipes. A princípio, as mulheres apresentariam as competências necessárias para atingir estes objetivos, devido a isso, as empresas estão oferecendo melhores condições para ter e mantê-las em seu quadro de funcionários. O resultado disso se reflete no crescimento acentuado das mulheres no mundo dos negócios e em cargos de liderança.
Para LIMA (2012), percebe-se um diferencial na atuação da mulher, no que se refere ao meio corporativo, em relação aos homens, que está fazendo toda a diferença. Na sua carreira de consultor de marketing pessoal e gestão de carreiras, percebe claramente o porquê deste movimento de ascensão das mulheres no mundo corporativo: preparação e oportunidade são os dois ingredientes básicos. Segue:
“Preparação significa o desenvolvimento das competências essenciais que diferenciam um profissional de sucesso daqueles medianos ou medíocres. Competências como: capacidade de auto motivação, bom humor, criatividade, capacidade de produzir conhecimento e liderança são algumas delas. E sem dúvida percebemos um maior nível de comprometimento das mulheres em desenvolver estas habilidades. Para constatar isto é preciso apenas observar o número de mulheres frequentando cursos de treinamentos em relação aos homens.
Oportunidade é a outra metade da fórmula para o sucesso, e certamente, esta outra metade está sendo melhor aproveitada pelas mulheres, pois elas têm demonstrado maior "pro atividade" em relação à busca por uma ascensão profissional. As oportunidades não batem à nossa porta todos os dias, pelo contrário, temos que buscá-la, persegui-la de maneira persistente e disciplinada. E percebemos que persistência e disciplina são qualidades muito mais acentuadas no comportamento atual das mulheres do que nos homens.
O autor ainda ressalta que:
Um exemplo simbólico é o da atual Senadora norte americana, a ex-primeira dama Hillary Clinton, uma das favoritas a assumir pela primeira vez a Presidência do país mais poderoso do mundo, os EUA. E também de tantas mulheres que estão assumindo a presidência das maiores corporações do planeta como a PepsiCo, que fatura 32,5 bilhões de dólares, dirigida por Indra K. Naooyi, de 50 anos; Brenda Barnes, 52 anos, Presidente da Sara Lee, que fatura 20 bilhões de  dólares e Patrícia Woertz, 53 anos, Presidente da Archer Daniels Midland com faturamento anual de 32,6 bilhões de dólares.
De acordo com Lauer (2012) Os últimos anos as mulheres aumentaram significantemente a participação em cargos de presidência, diretoria e gerência. No posto de coordenação, por exemplo, já ocupam mais da metade das vagas, com 64% de profissionais (dados do Cadastro Catho, banco de dados da Catho Online com mais de 200 mil companhias):
O autor ainda ressalta, fazendo referência a fala de Fernando Elias José (psicólogo e consultor comportamental em empresas), que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem em torno de quatro milhões de mulheres a mais que homens no Brasil. “Elas estudam mais, se dedicam mais, e normalmente estão melhor preparadas em processos de seleção. Buscam ser mais transparentes nas dinâmicas e entrevistas. Acredito que estes sejam alguns dos fatores que fazem com que elas estejam ocupando cada vez mais cargos de gestão”.

 Fonte do Vídeo: Mulheres em cargos de liderança, http://www.youtube.com/watch?v=lQQ9pR9okCI acesso em 26/12/2012, às 18h05

Em um ambiente onde a concorrência torna-se cada vez mais acirrada, as empresas se viram impelidas a buscar estratégias que as tornem mais ágeis em suas tomadas de decisões, mais adaptáveis as constantes mudanças que com frequência são obrigadas a administrar e um ambiente mais flexível nas negociações com seus clientes internos. E elas têm encontrado nas lideranças femininas as características ideais que vão ao encontro destas necessidades.
Morais (2012) cita que quanto:
A inserção da mulher no mercado de trabalho
Existe uma dimensão muito importante, não só para as organizações, mas também para a sociedade como um todo, que é a participação da mulher no contexto do trabalho e os reflexos da sua maneira de pensar, agir e sentir sobre os fenômenos evidenciados na complexidade organizacional (MADRUGA et. al., 2001).
A evolução da mulher no mercado de trabalho
Ao longo do tempo ocorreram algumas mudanças que acabaram por influenciar o ambiente organizacional, dentre elas, a globalização, inovações tecnológicas, mudanças nas exigências dos clientes e os novos e sofisticados modelos de gestão. Sobre esse assunto Madruga et. al (2001) apontam que essas profundas mudanças fizeram com que as organizações revisassem sua postura quanto à visão e ação estratégica. Pode-se dizer que atualmente as organizações já abrem espaço para a presença feminina em postos de liderança.
As habilidades da liderança feminina
Segundo Kets de Vries (1997), as habilidades das mulheres começam muito cedo. A mulher vai analisando o comportamento de sua mãe, e começa a adquirir conceitos sobre a vida, modo de agir, pensar, e consequentemente desenvolve muito mais cedo um talento maior de relacionamento. Com o desenvolvimento interpessoal na infância, a sensibilidade, a empatia, o compartilhamento e a vontade de ajudar fazem com que a mulher assuma um papel central no mundo interior.
Aos aspectos e competências da mulher na organização
Pode-se observar que as mudanças causadas pela maior participação feminina vão além das questões relacionadas à liderança. As empresas investem em benefícios favoráveis á família, como horário flexível, assistência pediátrica, creche no local de trabalho, etc.
Acredita-se que as novas regras do mundo nos negócios buscam as habilidades mais competitivas do mercado de trabalho e com isso faz que as mulheres estejam à frente para melhor representar essas organizações.
O mundo do trabalho e a mulher
Segundo Cappelle apud Menda (2004, p.56), no momento em que as mulheres começaram a inserirem-se no mercado de trabalho, as questões que envolvem as relações de trabalho entre a mão de obra masculina e feminina começaram a emergir. A maioria dos discursos nas organizações sempre pregou igualdade de condições e oportunidades para o sexo feminino e masculino no ambiente organizacional. Entretanto, ainda existe uma clara evidência com relação à desigualdade da participação da mulher no mercado de trabalho, seja quanto aos níveis salariais, possibilidade de crescimento na carreira ou oportunidades de exercer determinadas funções.
A mulher do futuro nas organizações
A mulher do futuro será aquela que assumir a humanidade inteira, todos os seres humanos como seus filhos, conforme Muraro (1969). Quer seja ela mãe fisicamente ou não, a maternidade é que lhe dará o substrato de sua condição feminina. Abdicar desse traço é abdicar de si mesma. Querer fazer as mesmas coisas que faz o homem e do mesmo modo é substituir uma dominação por outra. A mulher tem que viver primeiro, profundamente, as características que lhe são próprias, e isso de modo maior, maduro, consequente e em todos os planos: nas ciências, nas técnicas, no trabalho manual, no campo, em casa.
É fato que, a liderança feminina no mercado de trabalho cresceu, pois a mulher enfrenta os desafios cotidianos que o mundo coorporativo lhe impõe, atua com coragem ao assumir riscos, exerce a criatividade, lidera suas equipes de trabalho e valoriza o elemento humano, de forma a cultivar e estabelecer inter-relações pessoais diferenciadas.

Bibliografia
CASTELLS, Manuel. A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura. O Poder da Identidade. Vol. 2. São Paulo. Paz e Terra. 1999.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. São Paulo. Elsevier - Campus, 2004.
FRANKEL, Lois P. Mulheres lideram melhor que homens. São Paulo. Gente. 2007.
KETS DE VRIES, Manfred F. R. Liderança na empresa – como comportamento dos líderes afeta a cultura interna. São Paulo: Atlas, 1997. 
LAUER, Caio. O poder da liderança feminina. http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/noticias/o-poder-da-lideranca-feminina. Acessado em 24/08/2012, às 15h31 
LIMA, Ari. Liderança feminina. http://www.algosobre.com.br/carreira/lideranca-feminina.html. Acessado em 24/08/2012, às 19h21.
 MORAIS, Gisele Negretti de, et al.  Liderança feminina: um olhar diferenciado das organizações.  http://www.ead.fea.usp.br/semead/10semead/sistema/resultado/trabalhosPDF/380.pdf Acessado em 24/08/2012, às 21h
ROSENER, Judy B. As formas femininas de líder. Citado em RENESCH, John E. Liderança para uma nova era. São Paulo: Cultrix, 2003.
SAMARA, Eni de Mesquita. O que mudou na família brasileira? Da colônia à atualidade. Vol. 13 no. 2. São Paulo: USP, 2002.
TONANI, Adriana Venturim. Gestão feminina - um diferencial de liderança mito ou nova realidade. http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg7/anais/T11_0452_2131.pdf. VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão de Pessoas. Acessado em 24/08/2012, às 22h52.